quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Clodô e Clésio*

Ela não tá nem aí. Podem chamá-la de brega. Não, esta noite ela não vai ouvir Caetano. Despudorada, dirá que considera João Gilberto um chato. E achará graça da expressão horrorizada que tomará conta da amiga jorrrnalixxssssssssta.
Passa a mão sob a agulha do velho toca-discos: -“Parece que ainda funciona”. Olha a bolacha preta pra ver se não tem nenhum risco. E sorri, feliz como há muito não se sentia.
Pega uma caixa de lenços que secarão suas lágrimas.

Fagner gorjeia e se revela só pra ela:

“Um dia vestido/De saudade viva/Faz ressuscitar
Casas mal vividas/Camas repartidas/Faz-se revelar

Quando a gente tenta/De toda maneira/Dele se guardar
Sentimento ilhado/Morto, amordaçado/Volta a incomodar”

*autores de Revelação

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Comida

Passa a vida temendo as baratas. Num desses dias, o pensamento voa longe. Tão longe que chega na morte.
- "Se eu morrer antes do que você, me promete uma coisa? Jura, por favor, que serei cremada? Não quero ser coberta pelas baratas... Aí, depois, pegue minhas cinzas e, diariamente, misture uma colher dos meus restos na tua comida. Quando o saco ficar vazio, você pode morrer, tá?".

Comida até depois da morte.