sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Ooops!

Paris é um deslumbre. Mas dá muito trabalho.
Pra quem vai com a grana contada então, nem se fale!

Um grande exercício mental é fazer seu roteiro do dia usando o metrô.
Pegue o mapa e estude pacientemente onde você está, para onde quer ir, qual o sentido do trem que vai pegar e quais são as baldeações.
Tá tudo muito bem explicado. Não precisa falar inglês nem francês.
É fácil se orientar pelas cores das linhas. Legal. Mas que cansa, cansa.

Ela refletia sobre seu esforço, só pra justificar aquele mico.
Lembra que saíra logo cedo do Ibis Paris Gare Montparnasse e andara um pouco pra trás, pra acessar a Estação Pernety, da linha azul. Seu destino, Trocaderó -adora o nome da estação que dá na Tour Eiffel.
Bastava seguir na mesma linha, no sentido Saint-Denis.
Fácil. Podia relaxar e observar os franceses e seus cães, dentro das composições, sem cerimônia.
Os cães muito educados. Mas sérios como seus donos.

Sacolejava de pé, apoiando a cabeça no peito do companheiro, quando deitou os olhos numa moça que se afundava na leitura de um romance.
Feliz por reconhecer seu idioma no título do livro, tentou puxar assunto: “Você gosta de Paulo Coelho?”.
Jamais vai esquecer aquele olhar que a fuzilou: “Não li e não gostei”. A moça-estilo-intelectual-faço-curso-na-Sorbonne exibiu, raivosa, a capa vermelha, aproximando-a dos olhos da sua interlocutora, que enrubesceu violentamente.
As letras douradas pularam na sua cara: era “O Alienista” e não “O Alquimista”.

Do alto da torre, olhava os telhados cinzas de Paris, mas não conseguia parar de pensar que pagara em dobro o sarro que tirara do marido. Embora versado no francês, ele dera uma bela escorregada. E agora, atribuiria o mico ao estresse da elaboração do roteiro ou ao astigmatismo que seus óculos teimavam em não corrigir?

Trinta anos depois, em letras douradas sobre o mármore negro, seu epitáfio clamava:

Juro que não li Paulo Coelho.
1955-2025

sábado, 8 de setembro de 2007

Cem SentidoS

Um arrepio de frio. Meus braços se entrelaçam.
Aquela luz agride meus olhos.
Um gosto amargo desce do céu da boca e pára na garganta.
Cubro minhas orelhas (quem sabe, assim, o barulho diminui).
O cheiro de bosta me faz vomitar.

Acordo, assustada.

Você me envolve delicadamente em teus braços.
Vejo dentro dos teus olhos esse amor sem fim.
Teu beijo ainda sabe a café.
Tua voz pede que eu me acalme.
Pela janela do quarto chega um cheiro de jasmim.

Te abraço.
E volto a dormir.