quinta-feira, 18 de setembro de 2008

O peso do cheiro

Não esperava ter de ir ao cemitério naquele dia (e quem espera?). Tem hora que é compromisso. Ficou meia hora olhando a expressão "ainda bem que não é comigo" de muitos que por lá transitavam. Voltou pra casa. Ouviu a TV berrar sobre a queda da bolsa. Deu de ombros. Aquilo também não era com ela - conservadora de investimentos, só confia na poupança. De pijamas, deitou na cama gostosa. Mas, que nada. Rola pra lá e pra cá.
De madrugada, tomou uma ducha pra tentar tirar do corpo o cheiro que a impedia de dormir. Toalha felpuda. Um creme hidratante.

Viu o dia clarear com as narinas ainda inundadas pelas flores murchas do velório.

2 comentários:

Eli Carlos Vieira disse...

"ainda bem que não é comigo"

E imagina se fosse...

Ao reler o texto seu, lembrei-me de uma música de Cássia Eller, chamada "E.C.T.". Fala de pessoas que não têm nada a ver com uma situação, mas acabam tranformando a história por algum motivo, ao acaso talvez,(gosto sempre de ligar textos).


"Tava com cara que carimba postais
Que por descuido abriu uma carta que voltou
Levou um susto que lhe abriu a boca
Esse recado vem pra mim não pro senhor
[...]
Mas esse cara tem a língua solta
A minha carta ele musicou
Tava em casa vitamina pronta
Ouvindo rádio a minha carta de amor"

Bjaum!
eLi

Gustavo Martins disse...

acabamos de chegar, por indicação do Eli. muito bons os seus minicontos. têm "punch" e intimidade

se permitir, vamos dissecálos, ok?

apareça na nossa casinha vagabunda (o link vem junto com nossa identificação) sempre que quiser